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16/06/2015 22:07:24 (#523) - Trilha da Panela - investida I

Há muito tempo, na trilha do Paiolinho para a Pedra da Mina, vi uma bifurcação onde se encontra uma panela velha pendurada na árvore e pensei: "para onde vai essa trilha?". E, mais que isso, olhando na carta topográfica, ela direciona para um dos cumes da Serra Fina. Juntando essas observações, alguns anos depois da ideia inicial, chegou a hora de ver onde vai dar.

Sendo assim, na Sexta-feira, dia dos namorados, o Jonas, Alcides e eu deixamos nossas namoradas/esposas e seguimos nós 3 rumo à Passa-Quatro, mais especificamente para a Fazenda Serra Fina, onde chegamos no meio da noite depois. Sem perder muito tempo armamos nosso "acampamento" (o Jonas no porta-malas do carro e o Alcides e eu bivacando no chão ao lado) e fomos dormir.

No dia seguinte acordamos cedo, guardamos as coisas na mochila e às 7h começamos a caminhar pela trilha do Paiolinho. Rapidamente passamos pelo 1º riacho e, ao chegar no 2º, fizemos uma pausa para o café da manhã, seguindo nosso caminho logo em seguida até a famosa bifurcação da panela.

O começo da trilha é super aberta e em poucos minutos chegamos até uma grande cachoeira. Mais alguns minutos de pausa para curtir e fotografar o local e logo decidimos o caminho a seguir, levando sempre em conta o que havia planejado a partir da carta topográfica e google earth (a partir de lá não havia mais trilha).

Fomos seguindo nosso caminho, sempre alternando quem ia sofrendo mais na frente e, depois de varar um bom trecho de mato, passar por outro pequeno riacho e atravessar alguns bambus chegamos ao rio Verde em um lindo poço com cachoeira, onde fizemos mais uma pausa para fotos e descansar alguns minutos.

Sempre de olho no track que havia desenhado para o GPS, decidimos neste trecho seguir direto pelo rio, o que nos molharia um pouco mas provavelmente facilitaria a nossa progressão, e assim fomos seguindo, nos molhando até as coxas, por mais de 1 km acima pelo Rio Verde, tomando sempre o cuidado de não seguir nenhum de seus afluentes por engano (e são vários!).

Fomos seguindo, seguindo, seguindo até que, em uma das bifurcações do rio ele ficou com cachoeiras mais altas e o mais prudente era voltar para dentro da mata. Novamente fomos alternando a dianteira, sempre buscando o caminho menos fechado (não combina dizer "mais aberto" com o que enfrentamos lá), sempre ouvindo o rio ao nosso lado e seguindo lentamente para cima.

Após uma longa caminhada e, com o final da tarde se aproximando, chegamos a crista final próxima a outro encontro de rios. Neste trecho, pelo planejamento inicial, tínhamos as opções de atravessar um dos rios e subir ou, o que achamos melhor no momento, já que assim não precisávamos descer até o rio, subir direto por essa crista paralela.

Com as últimas luzes do dia começamos a subir e já pensando em encontrar um local para o nosso bivaque, o que não foi fácil. Logo tivemos que acender nossas headlamps, continuamos subindo até encontrar, às 19h, um pequeno platô onde conseguimos nos encaixar para uma linda noite estrelada.

Apesar do local ser pequeno e não muito plano (o Jonas que o diga, que acabou ficando em um local onde escorregava para baixo), a noite foi bem dormida. Logo que chegamos preparamos nossa janta, deitamos e o Jonas apagou logo em seguida enquanto o Alcides e eu ficamos batendo papo e olhando o céu estrelado e diversas estrelas cadentes até por volta das 21h, quando resolvemos também nos retirar para nossos aposentos.

Mesmo cansado não dormi muito nesta noite, provavelmente por causa do comprimido de cafeína no dia anterior, e diversas vezes acordei e fiquei curtindo o céu estrelado (e com mais estrelas cadentes) até que, às 5h45 o despertador do Jonas tocou, mas continuamos dentro dos sacos de dormir observando o céu começar a clarear antes de começar a preparar nosso café da manhã e nos preparar para mais um dia de caminhada.

Como o caminho de retorno seria o mesmo decidimos subir apenas com uma mochila com um pouco de água (nossa reserva estava acabando já que não tínhamos passado pelo outro encontro de rios na tarde anterior), algum lanche e uma blusa para frio. Nesta hora o Alcides disse que não tinha condições de continuar subindo e que começaria a descer na frente e, às 7h20, o Jonas e eu começamos então nosso caminho crista acima, ainda com a esperança de terminar a subida na trilha da travessia da serra fina.

O começo da subida foi tranquila mas logo percebemos que a crista não seguia direto e gradualmente para cima. Em vez disso, ela passaria por diversos pequenos cumes (4 ao total) com colos sempre repletos de bambus (uma das piores coisas que podíamos esperar). Mesmo assim, ainda com alguma esperança e ora eu animando o Jonas e ora sendo animado por ele, fomos seguindo a passo de tartaruga enroscada no bambu, atravessando intermináveis matas de bambus trançados na nossa frente - em alguns casos conseguíamos abrir uma trilha entre eles e em outros abríamos um túnel sob eles!

Atravessamos dessa maneira os vários colos entre os pequenos cumes e então chegamos na rampa final. Nos trechos de subida (às vezes) a mata melhorava, permitindo um avanço menos devagar e então chegamos a trechos que intercalavam pequenas árvores com capim elefante, outro pesadelo para nós. Nesse momento o Jonas já estava totalmente desacreditado mas ainda me seguia montanha acima (eu ainda tinha esperança de chegar em algum campo de altitude onde visse apenas lajes de pedra que nos levaria até o cume).

Fui continuando morro acima, agora além dos machucados por causa dos bambus eu cortava toda minha mão com o capim elefante (burrice não ter levado uma luva) e, alternando algumas pequenas lajes e capim elefante, subi até um trecho de onde consegui visualizar o caminho que faltava até o cume (uns 500 metros). Neste trecho parei, sentei no chão e logo que o Jonas se aproximou falei: só estou esperando você chegar aqui pra dizer que não dá mais!

O resto de esperança que tinha de chegar ao cume acabou quando vi que os próximos 500 metros não melhorariam: continuaria a alternância de pequenas lajes e muito capim elefante. Com pouca água (nesse momento nós dois tínhamos uns 400 ml na mochila e mais 1 litro no local do bivac) e o tempo passando muito rápido, às 11h20 decidimos que ali era nosso "cume" e que tinha chegado a hora de descer.

Foram 4 horas de caminhada para andar menos de 1,5 km (em linha reta estávamos a menos de 1 km do local de bivac) e, pelas nossas estimativas, levaríamos pelo menos mais 2 horas para chegar ao final da crista e, de lá, mais uns 30 minutos, no mínimo, para o cume pela trilha da Serra Fina.

Ficamos alguns minutos sentados descansando, molhando a boca com um pouco de água, comendo umas bolachas, fazendo algumas fotos e curtindo o visual abaixo de nós com o vale do rio Verde e a crista da Serra Fina ao nosso lado até começarmos a descer, por volta das 11h30.

A descida, agora com uma trilha aberta, foi muito mais rápida mas mesmo assim nem tanto. Em 1h30 andamos os 1,5 km e estávamos no local do bivac, acabamos de guardar as coisas nas mochilas, bebemos mais um pouco de água e às 13 h seguimos nossa descida, pelo mesmo caminho que tínhamos subido no dia anterior.

Com nossa passagem o caminho ficou razoavelmente aberto, em alguns momentos, quando aparecia alguma dúvida, recorríamos direto pro GPS para evitar sair do caminho já traçado e seguimos descendo, descendo, descendo até chegar novamente ao rio Verde, onde o Alcides tinha deixado dois Bis de chocolate branco (mostrando que até ali, pelo menos, ele não tinha morrido descendo sozinho) :-P

No rio pudemos nos reidratar como merecíamos, comemos um lanche e logo seguimos os 1,5 km pelo seu leito até o que chamamos de "Poço verde", de onde seguimos novamente pela mata, sempre pelo caminho que tínhamos passado no dia anterior.

Mais algumas horas se passaram e chegamos então à cachoeira. Já bem cansados, o que nos animava era saber que, quanto mais andássemos, melhor ficaria a trilha na nossa frente, então fomos seguindo, com as últimas luzes chegamos na bifurcação da panela e de lá, já com as headlamps na cabeça, seguimos os 3 km finais até a fazenda Serra Fina, onde o Alcides nos esperava e chegamos às 18h20.

Na fazenda uma boa pausa para descanso, trocar de roupa, beber água, comer e finalmente seguir estrada de volta pra São Paulo com o Jonas e o Alcides alternando a direção (eu estava destruído). Ao final me deixaram em casa por volta das 23h30 e, depois de descansar mais um pouco na cama consegui me animar para o merecido banho e ai sim, uma boa noite na cama.

Apesar de não concluirmos o projeto inteiro, essa primeira investida na Panela rendeu bem. Dificilmente conseguiríamos abrir o caminho todo e voltar em um final de semana mas fomos bem mais longe do que eu esperava. Com certeza, com mais uma investida, completaremos a lição de casa. Agora a dúvida é se iremos novamente pelo mesmo caminho ou se tentaremos encontrar a trilha já aberta vindo por cima, fazendo apenas o retorno pela "Panela". Antes do final da temporada espero definir (e resolver) isso ;-)

Algumas fotos podem ser vistas no link Trilha da Panela - investida I.

- enviado por Tacio Philip às 22:07:24 de 16/06/2015.



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