Este relato está um pouco atrasado mas agora sai! Nas últimas semanas (ou meses?) estive hiper enrolado com o projeto do meu
livro de macrofotografia e agora, com seu lançamento concluído, acho que vou poder voltar a um ritmo mais "normal" de trabalho, viagens e atualização de sites.
Desde o começo do mês, quando a Aline entrou de férias, começamos a planejar algumas viagens mais longas para fugir de São Paulo. No dia 5 de Julho, já com as mochilas prontas com comida para alguns dias, equipo de acampamento e vontade de viajar olhamos a previsão do tempo e o primeiro plano foi literalmente por água abaixo: nossa ideia era descer para o PR mas a previsão do tempo indicava chuva. Sem perder tempo, olhei a previsão para o lado oposto e, como estava muito melhor que no PR (o que não é novidade) decidimos, de última hora, ir para Passa-Quatro e fazer a travessia da Serra Fina. Uma travessia entre as cidades de Passa-Quatro e Itamonte, com duração normal de 4 dias, e que eu só havia feito completa neste mesmo sentido há 10 anos, em 2002!
Sem perder muito tempo reajustamos algumas coisas que precisaríamos levar, colocamos tudo no porta malas do carro e pegamos estrada, chegando em Passa-Quatro no começo da noite. Lá uma pausa para lanche no centro e logo seguimos de carro pela estrada que leva à Toca do Lobo, início da travessia, onde paramos já depois da porteira final e nos ajeitamos para dormir no porta malas do carro (e dessa vez estava de Weekend, mas cabe e é confortável!).
Dia 1 - 06/07/12 - Passa-Quatro - Toca do Lobo - Alto do Capim Amarelo
No dia seguinte acordamos cedo, levantamos com o frio da manhã e fomos preparar o café da manhã. Tudo corria bem até perceber que a bomba do fogareiro tinha dado defeito e estava vazando benzina! Desmontei a bomba e, para desanimo total, que fez com que eu jogasse o fogareiro longe - mas depois busquei - era um trincado e não tinha o que fazer para consertar, nossa travessia estava comprometida por não ter levado um fogareiro reserva (cheguei a pensar nisso mas não levei por não ter gás suficiente).
Sem ter muito o que fazer guardamos as coisas no porta malas e descemos os quase 10 km de estrada de terra de volta a Passa-Quatro na procura de um fogareiro. Perguntamos para algumas pessoas sobre lojas e depois resolvemos passar em um novo Hostel que tem na cidade (existe há uns 2 anos), lá falamos com o Rodolfo e Willian, dois montanhistas/guias que vivem em P4, e logo o Rodolfo buscou uns fogareiros, fizemos uns testes e pronto! Tinha conseguido um fogareiro emprestado!
Antes, devido a subir de carro até a Toca do Lobo, a ideia era começar a travessia bem cedo e esticar quase os 2 primeiros dias de caminhada, parando na água na base da Pedra da Mina. Agora, como tínhamos perdido preciosas horas de caminhada resolvemos voltar para a Toca do Lobo mas seguir a travessia no ritmo mais comum, ou seja, fazê-la em 4 dias acampando sempre nos cumes principais. E, como agora o carro já estava em P4, resolvemos pagar para nos levar até a Toca do Lobo, indo até lá com o Tomás em um Jeep (assim não precisaríamos mais nos preocupar em resgatar o carro ao final da travessia).
Às 10h30 estávamos na Toca do Lobo e, com as mochilas nas costas atravessamos o riacho e começamos a longa subida do primeiro dia. Eu tinha feito este trecho em 2001 e 2002, o que fazia com que eu me lembrasse de alguns trechos e outros não e aproveitei para atualizar meu mapeamento com GPS, inclusive atualizar algumas altitudes de cumes, que eu não tinha certeza se havia marcado corretamente nas outras investidas.
O começo da trilha segue por mata fechada e pirambeira mas logo sai em uma crista e fica assim o resto do dia. Aos poucos fomos ganhando altitude, passamos por um ponto de água que eu não lembrava que existia e continuamos subindo. Depois de um primeiro cume uma descida e ai sim a longa e infinita rampa final que, depois de 4h30 de caminhada, nos levou ao cume do Alto do Capim Amarelo, 27ª montanha mais alta do Brasil de acordo com o anuário estatístico do IBGE e a primeira que eu queria confirmar a sua altitude, que o IBGE informa como 2392 m mas que eu obtive 2500 m nas duas vezes que lá estive com um GPS (e não acredito que o erro do GPS possa chegar a tanto em uma situação sem nenhuma obstrução do céu).
No cume preparamos um lanche, montamos a barraca e com o final da tarde preparamos o jantar e fomos dormir, acordando só por volta das 21h30 com a chegada de outras pessoas.
Dia 2 - 07/07/12 - Alto do Capim Amarelo - Pedra da Mina
No dia seguinte acordamos logo que o Sol nasceu e sem muita pressa preparamos o café da manhã, desmontamos a barraca, guardamos as coisas na mochila e, às 8h40, atravessamos o cume e começamos a descida do seu lado oposto. Esse foi o primeiro trecho que a trilha tem pegadinhas: existe uma trilha bem aberta (mostrando que muita gente já errou ali) que segue próximo às pedras e leva ao lugar nenhum, fazendo com que perdêssemos alguns minutos e tendo que subir de volta quase até o cume à procura do caminho certo, que sai mais para a esquerda em direção ao mato.
De volta a trilha certa seguimos caminho sem mais problemas e de longe víamos a Pedra da Mina, nossa meta para este 2º dia de caminhada. A trilha, como sempre, segue pela Crista fazendo um contorno pela esquerda e depois rumando direto para a Pedra da Mina, passando então pelo riacho em sua base, onde fizemos uma pausa para lanche e encher os reservatórios de água. Nessa hora o clima não colaborava mais muito conosco e o céu que estava completamente azul no dia anterior agora se mostrava bem carregado de nuvens.
Com a mochila de volta às costas (e mais pesada por causa da água) seguimos nosso caminho e, às 15h45, depois pouco mais de 7h de caminhada chegamos ao cume da Pedra da Mina, 4º ponto mais alto do Brasil de acordo com o IBGE.
No cume encontramos diversas pessoas que tinham subido pela trilha do Paiolinho e estavam acampadas por lá, fazendo com que tivéssemos que ficar em um local não muito confortável mas ainda um pouco protegido do vento. Depois de largar as mochilas no chão voltamos ao cume, assinamos o livro e, com o tempo piorando a cada minuto, armamos a barraca e nos "retiramos para nossos aposentos", onde fizemos um lanche, depois o jantar e então fomos dormir.
Dia 3 - 08/07/12 - Pedra da Mina - Pico 3 Estados
No 3º dia acordamos às 6h com a chuva fazendo barulho na barraca. Desanimados com o clima esperamos a garôa parar, levantamos, preparamos o café da manhã e começamos a guardar as coisas. A neblina não permitia que enxergássemos mais longe que uns 50 metros mas tinham nos dito que a previsão do tempo para o dia seguinte seria melhor, então, enquanto o pessoal que estava acampado no cume descia rumo ao Paiolinho, a Aline e eu seguíamos para o vale do Ruah para continuar a travessia.
Mesmo com frio e sabendo que nos molharíamos no vale fomos seguindo e, na base da Pedra da Mina, encontramos o Márcio e o Rodrigo, que nos perguntaram se tínhamos visto seus amigos pelo cume e resolveram também seguir a travessia. De lá, sempre de olho nas trilhas "menos fechadas", na marcação que eu tinha feito com o GPS quando fui para o Pico Cabeça de Touro e tentando ir beirando o rio fomos seguindo nós quatro até que fizemos uma pausa para coletar água antes da trilha sair do vale e voltar para a crista.
A continuação da trilha foi bem tranquila e aos poucos o Sol ameaçava aparecer. Fomos seguindo pela trilha bem marcada até estarmos próximos do cume do Cupim de Boi, onde teve uma queimada e deixou o local um pouco "careca". Bem próximos do cume do Cupim de Boi paramos para um lanche e então, tendo para um dos lados o Cabeça de Touro e para o outro o Pico 3 Estados, começamos a descer rumo ao vale e logo em seguida para a rampa em trilha e trepa pedra que nos levou ao cume do Pico 3 Estados, 10º mais alto segundo o IBGE, às 14h50, e com céu aberto e Sol!
Sem muita pressa fomos fazer algumas fotos, passear pelo cume e só então montar a barraca e colocar algumas coisas esticadas para secar. Todas as nuvens do dia anterior tinham sumido e, pouco antes do Sol se pôr, preparamos nosso lanche, jantar e fomos então deitar, com direito a sair da barraca no começo da noite para observar uma das noites mais estreladas que vi até hoje!
Dia 4 - 09/07/12 - Pico 3 Estados - Sítio do Pierre - Itamonte - Passa-Quatro
No nosso último dia de travessia acordamos e logo que o Sol nasceu tivemos coragem de sair do saco de dormir e da barraca. Do cume tínhamos acima de nós um céu completamente azul sem uma nuvem sequer e logo abaixo um mar de nuvens rasgado pelos cumes da região da Pedra da Mina a Oeste e Itatiaia a Leste.
Com o clima perfeito e sendo o último dia da travessia não tivemos muita pressa. Aproveitamos bem o café da manhã, tiramos muitas fotografias e começamos a caminhada por volta das 9h30.
Logo depois da descida principal do Pico 3 Estados encontramos um outro lugar fácil de errar, com uma trilha que levava para o fundo do vale sendo que tínhamos que desviar para nossa esquerda e voltar para a crista. Felizmente notei isso logo que a Aline começou a descer e pudemos então voltar ao caminho certo, em uma sequência de sobe-desce pela crista até chegarmos ao cume do Alto dos Ivos.
De lá a trilha agora é só para baixo, começando por rampas de pedra e cada vez mais entrando em mata fechada, descendo e descendo em um caminho que não tem fim (é o dia mais longo com cerca de 11 km). Com o tempo passando fomos descendo fazendo poucas pausas para lanche ou fotografias e logo a trilha voltou a se abrir, chegamos no que um dia foi uma estrada de terra e logo na estrada de terra que nos levou até o "sítio do Pierre", nome do local mas que, se não me engano, não tem mais nenhum Pierre há mais de 10 anos.
No final da trilha, às 15h20, encontramos uma Kombi que esperaria o resto do pessoal mas resolvemos continuar. Seguimos então alguns minutos a pé pela estrada que liga Itamonte à Engenheiro Passos e logo conseguimos uma carona que nos levou até a Garganta do Registro onde pudemos comer um bom milho verde, fazer compras (principalmente mel que sempre compro lá) e então fomos para o outro lado da estrada na busca de uma outra carona, sendo que a conseguimos poucos minutos depois com uma carreta que nos deixou em Itamonte.
Em dois postos de combustível nos informamos sobre horários de ônibus para Passa-Quatro e, como ainda faltava bastante tempo (mais de 1h), resolvemos tentar conseguir uma carona, o que não estava tão fácil. Por curiosidade atravessei a rua e fui perguntar a um taxista quanto seria a viagem até P4 e, para minha surpresa, custava R$45,00. Sem perder tempo pedi que ele atravessasse para o outro lado da rua onde a Aline esperava, colocamos as mochilas no porta malas e seguimos de volta ao hostel, chegando por volta das 18h, para o merecido banho, jantar e depois noite de sono em uma cama.
Final
No dia seguinte acordamos sem pressa, tomamos café, fizemos algumas fotos, guardamos as coisas e pegamos estrada de volta à São Paulo, onde chegamos na metade da tarde.
Apesar dessa travessia ser chamada de "a travessia mais difícil do Brasil" ela não tem nada de "mais difícil", talvez o certo seria chamar de "a travessia TURÍSTICA mais difícil do Brasil", já que muitas empresas e pessoas levam clientes que nunca subiram uma montanha para fazê-la. Mesmo assim foi muito bom retornar e repetir o mesmo caminho que eu havia feito há quase 10 anos, em 2002, pouco tempo depois que eu tinha começado no montanhismo.
E, diferente do que muitos eco chatos falam, a travessia está mais bem conservada hoje que há 10 anos. No intuito de atualizar meu mapeamento com GPS percebi que diversos pontos que já haviam sido usados como acampamento há 10 anos não existem mais e a trilha está muito mais consolidada, com poucos trechos onde é possível se perder e bem marcada. Uma mostra que não é permitindo o acesso das pessoas (felizmente lá não é um parque como Itatiaia) que o local vai ser degradado. A própria dificuldade de acesso limita o número e tipo de frequentadores e o icmbio devia entender isso...
E algumas das fotos já estão no link travessia serra fina e em breve postarei os vídeos.
- enviado por Tacio Philip às 22:58:40 de 18/07/2012.
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