Semana passada, nos dias 6 e 7 de Julho, escalei com a Aline duas vias em Pedralva: a primeira foi a Tião Simão (5º VIsup A1+ E3 330m), via que eu queria escalar há algum tempo e, a recém terminada, Ossos do Ofício (5º VI E3 400m), sendo que fizemos a primeira repetição desta via sem contar com a participação de algum dos conquistadores.
A ideia de ir para Pedralva já passava pela cabeça há algum tempo, foi lá que considero meu começo verdadeiro em escalada tradicional, quando escalei, com o Pedro Hauck e Leo Moreira a via Evolução, em 2006. Então, com a ideia de escalar a Tião Simão atualizei algumas infos e, ao falar com o Zé Nunes (do blog http://rotadaescalada.blogspot.com/), ele me disse que havia novas vias para serem repetidas. Sem perder tempo peguei os croquis, alguns betas e confirmei a ida para Pedralva.
A Aline e eu saímos de São Paulo na 3ª feira, dia 05/07, mais ou menos na hora do almoço. Depois de buscá-la em sua casa almoçamos e seguimos os quase 300km (3,5h) de estrada até o hotel Panela Velha, onde costumo ficar. Lá demos uma volta pela cidade, jantamos e logo fomos dormir.
No dia seguinte acordamos cedo, às 7h estávamos tomando café e, pouco tempo depois, na estrada novamente. Passamos pela casa do Sr. Tião Simão (sempre muito prestativo com escaladores), deixamos o carro ao lado do curral (apesar de ser possível subir até onde fomos com 4x4 - e depende o 4x4 até ir mais - acho que não vale a pena, o tempo que se perde abrindo e fechando porteiras é maior que o tempo que levaria a pé para subir). Lá pegamos as mochilas e logo começamos a subida pela estrada de terra rumo à parede.
Chegando próximo da parede passamos na base das vias Suanuarcu, Rachacuca (vias que eu havia escalado em 2008) e pouco tempo depois chegamos à base da Tião Simão (5º VIsup A1+ E3 330m). Sua base não tem como ser confundida, ela começa bem embaixo de um platô com árvores a 60m de altura e possui na sua base uma fenda larga que pode ser protegida com peças grandes (as quais não tinha levado para poupar peso).
Começando a escalada pela linda fenda diagonal consegui a proteger com um friend #5 (Rock Empire, equivalente a Camalot #3) e depois segui sua escalada por face até sua primeira parada. Logo a Aline se juntou a mim e guiou a 2ª enfiada até o platô, onde começa a enfiada chave da via, uma escalada mista com lances em livre e lances em artificial (buracos de cliff). Enquanto pude fui subindo em livre até que, em um lance bem vertical onde não achava um pé decente e muito menos uma agarra razoável para as mãos, claramente mais que 7b como informado no croqui, peguei os talons, estribos e segui alguns lances em buracos de cliff e chapeletas. Fui fazendo uma escalada em artificial onde era necessário e em livre onde dava até que, depois de pelo menos 1h, cheguei na 3ª parada da via para que a Aline a subisse (em livre em alguns trechos e jumareando com prussic em outros).
Dali em diante o resto da escalada é toda em livre. Deixamos então algumas costuras que não precisaríamos, assim como estribos e talons na parada e segui guiando a 4ª enfiada, sendo seguido pela Aline que guiou a 5ª (sendo sua primeira guiada em uma via tradicional com proteções móveis). Na sequência segui pela 6ª enfiada e a Aline depois na 7ª, sendo essa uma enfiada fácil mas com apenas uma proteção fixa (que a Aline não viu e pulou) e o restante protegida em móvel.
De lá, uma última e tranquila enfiada até o topo da parede, passando pelo final das vias SuanuArcu e Racha Cuca e depois uma trilha até quase o topo do Pedrão (terminamos a via mas como já era tarde não subimos até o cume da montanha).
De volta ao final da via fizemos algumas fotos e em seguida descemos até a última parada da via. De lá começamos os infindáveis rapéis até o chão, com direito a muitos cactus nos espetando no caminho, e já com as headlamps na cabeça chegamos ao chão onde nos desequipamos e seguimos por um caminho mais direto, que havíamos pensado enquanto estávamos na parede, em direção à estrada onde havíamos deixado o carro.
De volta ao carro seguimos o caminho de volta, novamente encontramos o Sr. Tião Simão que disse ter nos visto na parede, e dissemos que voltaríamos no dia seguinte. De lá um pouco de estrada até o hotel para o merecido jantar, banho e noite de sono.
Indo escalar a via Ossos do Ofício em Pedralva
No dia seguinte também acordamos cedo, tomamos café e seguimos estrada rumo a casa do Sr. Tião. Lá deixamos o carro e seguimos então pela trilha que leva ao bananal, onde encontramos com seu filho e o Sr. Tião mesmo nos ajudou a encontrar a trilha que leva à base da via Ossos do Ofício(5º VI E3 400m), via que tinha acabado de ser conquistada e ainda não havia sido repetida por um grupo que não contasse com um dos conquistadores na cordada.
Na base da via nos equipamos e a Aline começou a guiar a primeira enfiada. Na seguida foi minha vez e fomos alternando as enfiadas até a 4ª parada, onde a Aline achou melhor que eu continuasse guiando uma enfiada que no croqui diz "Expo!", mas bem tranquila e com movimentos muito bonitos em uma boa sequência de grandes agarras.
No final dessa enfiada chega-se em um pequeno trecho de trilha, de onde a via continua por um diedro sem fenda. Apesar do croqui graduar esse lance em 6º eu o achei bem tranquilo. Ele ainda está bem sujo, mas com o tempo e com as agarras mais visíveis ele deve ser recotado em 5º ou no máximo 5º sup. Seguindo fui até sua parada onde, mais uma vez a Aline se juntou a mim e, como estava cansada, segui guiando também a 7ª enfiada da via, essa sim um 6º grau (talvez um 6º sup) e com certeza o "filé" da via com movimentos de equilíbrio em pequenos regletes e lances em fendas de diversos tamanhos. De lá mais uma vez dei seg para a Aline e sem perder tempo segui pela última enfiada até o final da via.
Como no dia anterior acabamos demorando por ter seguido para o "quase" topo da pedra, dessa vez resolvemos descer direto e logo começamos a fazer algumas fotos e preparar o rapel. A essa hora eu já não me sentia bem na parede, havia dormido mal no hotel com alergia e aparentemente uma forte gripe viria me nocautear (e nocauteou no dia seguinte). Fomos então descendo e, ainda de dia, chegamos na base da parede (novamente muito espetados por cactus) onde vimos que algumas formigas haviam cortado uns pedaços da mochila da Aline e do meu rack (que deixamos na base junto com os tênis).
De lá seguimos pela trilha atravessando o bananal, aproveitei para diversas fotos do Pedrão com a luz do entardecer e logo chegamos na casa do Sr. Tião Simão, que nos aguardava com uma sacola de mexericas! Novamente agradecemos por tudo e seguimos então para o hotel para jantar, tomar um banho fervendo e depois dormir. E realmente a gripe com talvez um princípio de pneumonia haviam me pegado.
Depois da escalada das vias Tião Simão e Ossos do Ofício em Pedralva
No dia seguinte acordamos um pouco mais tarde, fomos tomar café, arrumamos as coisas e por volta das 9h30 pegamos estrada de volta para São Paulo. O caminho de volta foi tranquilo e a única coisa que me incomodava era a dor no corpo, tosse e febre. Chegando fomos para a casa da Aline onde almoçamos e, depois de deixá-la na 90 graus às 16h, fui para casa dormir e tentar me recuperar.
O resto do final de semana foi de molho em casa a base de alguns remédios e muito descanso para me recuperar. Nos próximos dias pegarei estrada com o Pedro para algumas boas escaladas por ai.