Continuando o post sobre a
Escalada do Dedo de Deus pela face L (Maria Cebola) e Dedo de Nsa Sra no feriado entre os dias 23 e 26 de Julho, no dia 26, Domingo, colocamos todas as fichas na mesa e apostamos em uma melhora no clima para entrarmos na via
Diedro Salomith D4 5º VIIa (A0/VIIb) E2.
Acordamos às 6h com o despertador e depois de enrolar um pouco levantamos, acabamos de colocar os equipamentos ainda úmidos na mochila e saímos para tomar café da manhã. Logo em seguida fomos para a estrada, deixamos o carro no local de sempre e mais uma vez começamos a caminhada pela trilha do dedo de deus. Subimos em ritmo leve mas constante e, 39 minutos depois do começo da trilha estávamos no trecho com cabos de aço. Colocamos as sapatilhas e sem perder muito tempo seguimos, bem espertos olhando para tentar identificar o começo da via.
Na bifurcação da trilha das vias setor Leste e Teixeira deixamos uma das mochilas, levando na outra apenas água, lanche, os tênis e headlamps e pouco tempo depois de uns lances de trepa pedra achamos o início da via. Ele não está tão obvio como indica o croqui já que o primeiro grampo, que um dia deve ter sido visível da trilha, sequer foi encontrado por nós, mas fica em um trecho ligeiramente plano e aberto da trilha, subindo por uma rocha suja até onde encontramos um "P" da via em si (ao lado de muitos banbuzinhos).
Na base acabamos de nos equipar e subi guiando a 1ª enfiada, a emendando até a 2ª parada, feita equalizando em um grampo "P" e uma árvore. Nesse dia, diferente de muitos outros onde me sinto muito adrenado na 1ª enfiada de uma via, estava hiper relaxado e tranquilo, inclusive pulei umas proteções para evitar perda de tempo. De cima dei seg para o Victor que logo se juntou a mim e seguiu guiando a 2ª enfiada e metade da 3ª, o diedro em si, onde preferiu descer até a 3ª parada da via e deixar que eu continuasse, e assim fizemos.
Fui seguindo pelo lindo diedro, assumo que em um lance ou outro dei uma roubadinha usando um "P" como ponto de apoio, mas logo estava na 3ª parada montando a segurança para que o Victor subisse.
Saindo da P3 vem o 1º crux da via, uma travessia (VI+) que contorna uma grande laca e depois segue por um lance que, em livre o croqui diz ser VIIa mas eu preferi poupar as forçar e o subir em artificial (A0) por ser bem negativo e atlético (mas assumo que fiquei com vontade de fazer o lance em livre!). Vencido o lance em artificial a via segue por um VI em uma fenda com um pouco de mato em uns lances muito bonitos até a P4, bem ao lado de um empilhado de blocos abaixo de um grande teto. Desse lugar, para a esquerda, segue a via Gilda Bordes e, para a direita, enfiada em trepa pedras e trilha feita pelo Victor, sai na trilha da via Leste (ponto que havíamos visto na nossa primeira subida do dedo no feriado) e onde continua a 5ª enfiada da via.
A 5ª enfiada tem outro crux "chato", ela sai em um único lance em artificial (A0) e logo segue tranquila por lances que começam em 5º grau, vão piorando para 6º até chegar no crux geral da via, um 7a que tem que ser feito em livre. O pior de tudo é que a proteção nesse lance é muito, mas muito estranha. Ou você protege bem para a direita e faz a travessia para a esquerda até um P após o crux, ou, após esse P a direita, segue para esquerda descendo, protege em outro P e segue para cima para vencer o crux. Eu não me achei em nenhum dos movimentos e acabei o passando depois de laçar o P com uma fita, mas faz parte da aventura. Depois disso a via continua em lances mais tranquilos até a P6, que no nosso caso era a P5 devido termos emendado uma enfiada.
De lá dei seg para o Victor e logo que ele chegou seguiu emendando as duas próximas enfiadas, uma primeira que é um mixto de trilha e chaminé e a segunda que segue em um diedro com aderência em rampa de pedra musgada (fácil mas tenso!). De lá ele montou a segurança para que eu me juntasse a ele.
Na P8 começa a enfiada mais bonita da via, uma fenda que deve ter uns 15 metros de altura quase toda protegida em móvel. Antes de entrar nesse lance dei uma boa descansada, bebi uma água, um carboidrato e, depois de me concentrar, entrei para escalá-la.
Essa enfiada precisa de peças grandes, nesse dia estava com o rack do Victor e usei camalots números 3 e 2 logo no seu começo. O bom é que a fenda, escalada com entalamentos de mão e pés, vai ficando mais estreita e mais para cima pude usar peças números 1 e 0.75, quando ela chega no seu crux, um lance praticamente sem boas fendas para a mão (onde tem fenda é onde você pode proteger, e foi isso que eu fiz com outro camalot e nut) e acabei fazendo o movimento em artificial fixo e móvel, vencendo assim o lance e chegando até a 9ª parada da via, que possui apenas 1 "P" e de onde começa uma longa enfiada em artificial.
Montei a segurança, o Victor se juntou a mim e logo seguiu pelo artificial. No croqui mostra um artificial com umas 4 ou 5 proteções fixas, mas isso foi apenas economia de quem fez o croqui! Na verdade ele segue por quase 20 "P"s até passar por uma parada e seguir em escalada em livre (5º grau) até uma parada quase no cume do Dedo. Essas duas enfiadas foram guiadas pelo Victor e logo em seguida, com o final da tarde chegando e o clima tendo colaborado com nós, cheguei até a parada e segui para o cume!
No cume guardamos o material que não seria mais usado e, sem perder muito tempo, assinamos (pela 2ª vez na semana) o livro de cume e começamos a longa descida, isso depois de 7h de escalada desde o início da via e vendo um lindo entardecer alaranjado atrás do Cabeça de Peixe, Garrafão e montanhas desse complexo.
A descida, metade já no escuro, foi mais uma vez pela via Teixeira, dessa vez sem cordas presas em cabos de aço e, cerca de 2 horas depois da nossa saída do cume (por volta das 17h30), estávamos no final da trilha seguindo para a lanchonete para o merecido pastel (e o Victor aproveitando para matar 2 energéticos + coca-cola!).
Saindo da lanchonete passamos no trailer para fecharmos a conta, trocar as roupas imundas e imprestáveis que estávamos usando (principalmente eu que usei a mesma camiseta, calça e meias nos 4 dias durante as escaladas) e, sem demorar, colocamos tudo no carro e pegamos estrada rumo São Paulo.
O primeiro trecho de estrada foi com o Victor e aproveitei para dormir um pouco, acordando mesmo quando já estávamos na Dutra subindo a serra das Araras. Pouco tempo depois foi minha vez de assumir o volante e segui então até um Graal ou ArcoIris (na verdade nem lembro!) próximo de Roseira, onde fizemos uma pausa para jantar. De lá segui ainda mais um pouco até o começo da Carvalho Pinto, onde o Victor acordou e assumiu o voltante até sua casa na Sta Cecícia, onde chegamos às 3h20 da madrugada.
Lá joguei minhas mochilas no porta-malas do carro (havia deixado na garagem do prédio do Victor) e, 25 minutos depois estava em casa, morto de cansaço, caindo na cama para a merecida "noite" de sono.
Apesar de ter sido um dia extremamente cansativo, foi excelente (talvez até por isso, dia "light" não tem graça). Conseguimos escalar a via que era a meta principal da viagem (mesmo com previsão do tempo que só tentava nos fazer desistir) e ainda escalamos outras vias mais tranquilas no nosso "processo de aclimatação".
E ainda sobraram outras vias e cumes na região para serem escalados, ainda essa temporada voltarei por lá!
A primeira parte desse relato pode ser vista no link Escalada do Dedo de Deus pela face L (Maria Cebola) e Dedo de Nsa Sra e as fotos das escalada podem ser vistos no link Escaladas no Dedo de Deus e Nossa Senhora.
- enviado por Tacio Philip às 12:50:04 de 04/07/2011.
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