Vou aproveitar que estou com
um pouco de tempo (estou no aeroporto de Sta Cruz de la Sierra depois de 16 hs de ônibus vindo de La Paz e agora só faltam 16 hs para meu embarque para o Brasil) e escrever como foi a escalada do Pequeño Alpamayo no meu aniversário, último Domingo, dia 13/09/09.
No dia 12, Sábado, às 8hs da manhã deixei o hotel e fui para a frente da agência do Juan esperar o taxi que eu havia pedido no dia anterior para me levar a Tuni. Cheguei ao local 8h05 e não havia taxi, esperei um pouco, o tempo foi passando e por volta das 8h15 já falei com um taxista e vi quanto cobraria para me levar (na hora não aceitei, mesmo sendo mais barato que o outro que eu esperava). Mais alguns minutos se passaram e o mesmo taxista deu uma volta no quarteirão e voltou dizendo que me levaria pelo preço que eu tinha falado (Bs 120) então coloquei as mochilas no porta-malas e começamos a viagem.
A ida foi tranquila tirando o fato do motorista ter que parar na ida para colocar gasolina, ligar para a mulher falando onde estava indo e depois uma outra pausa para pagar uma multa ou propina para um guarda por tentar furar um pedágio, mas mesmo com tudo isso, depois de 2hs de viagem eu já estava em Tuni negociando com a Lucy (irmã do Rogélio) uma mula para levar minha bagagem ao acampamento base do condoriri.
Em Tuni, com um clima perfeito aguardei vir a mula e antes que ela acabasse de comer chegaram outros dois grupos, primeiro o guia Miguel com 3 Holandesas (e carregando praticamente um condomínio de equipamentos - dizer uma casa seria pouco) e depois 2 espanhóis, o Ernesto e o Dani. Como todos iriam para o mesmo local esperamos até que tudo estivesse pronto e fossemos todos nós com as 7 mulas até o base.
A caminhada foi bem tranquila e para não me desgastar fui no ritmo das mulas junto com os espanhois e a Lucy (a muleira). Só aceleramos um pouco ao chegar do lado da lagoa Chiar Kota porque o tempo estava ficando cada vez pior e ameaçando chover.
Logo que as mulas chegaram armei minha barraca próxima do acampamento do Miguel (minha única preocupação era com possíveis roubos que podiam acontecer enquanto eu estava escalando) e assim que comecei a descansar dentro da barraca o tempo fechou de vez e começou a nevar. Agora eram duas preocupações e o clima me preocupava bem mais.
Algum tempo se passou, fiz algumas fotos e vídeos e tão rápido quanto o tempo tinha piorado ele melhorou e todas as núvens sumiram do céu! Depois disso pude entrar de vez em minha barraca, preparar meu jantar e em seguida ir dormir muito animado com a escalada do dia seguinte.
O despertador tocou 1h da madrugada e depois de poucos minutos de preguiça comecei a me preparar para a escalada. Preparei meu couple noodles com mate de coca de café da manhã, acabei de arrumar a mochila que já estava pré arrumada e às 2h13 estava fora da barraca começando a caminhada até o glaciar. Fui em um ritmo tranquilo e 50 min depois estava na base do glaciar onde o Ernesto e o Dani, que também tinham decidido começar a escalada às 2hs, acabavam de se encordar, colocar os crampons e iniciavam a subida pelo glaciar.
Sem pressa também coloquei meus crampons, bebi um pouco de suco e depois de uns 15 minutos comecei a subida pelo glaciar em um ritmo tranquilo mas constante. Fui subindo e subindo, me assustando algumas vezes com estalos no gelo sob meus pés e logo pude ver mais acima a luz das headlamps dos espanhóis. Continuei no meu ritmo e em menos de 1h os tinha alcançado e resolvi então ir no mesmo ritmo que eles sem me forçar.
Continuamos a subida juntos, os dois preferiam ir zig-zagueando nas encostas mais inclinadas enquanto eu preferia ir direto para cima e logo estávamos acima dos 5000m de altitude chegando na maior greta do caminho. Nessa hora eu estava na frente abrindo caminho mas como eles estavam encordados deixei que passassem enquanto eu bebia um suco - se a ponte de gelo não caisse com o peso deles provavelmente não cairia também com o meu.
Os dois passaram pela ponte por um caminho diferente do que eu tinha feito com o Alcides há uma semana (mas este estava mais marcado agora) e em seguida também o passei, voltando a subir no meu ritmo até que às 6hs cheguei na crista do Tarija pouco antes do Ernesto, do Dani e do nascer do Sol.
Falei com eles e decidimos esperar alguns minutos e aproveitar o visual do nascer do Sol daquele lugar. Aproveitei para descansar, beber um suco, comer uma bolacha e é claro, fazer algumas fotos até que às 6h30 retomamos a caminhada rumo ao Pequeño Alpamayo.
Fomos seguindo, agora subindo até o cume do Tarija e descendo pela sua encosta oposta - uma desescalada em rocha tranquila mas diferente por não ter tirado os crampons - e logo estávamos no colo entre as duas montanhas onde decidimos deixar as mochilas para o ataque final ao cume.
Peguei apenas o necessário (piolets técnicos, GPS e câmera fotográfica) e às 7hs comecei a subida final da crista do Pequeño Alpamayo. O começo foi tranquilo mas quanto mais subíamos mais complicado ficava. Além disso, em alguns momentos ouvimos barulho de gelo se partindo sob nós, o que realmente nos deixava muito assustados e tensos.
Nesse trecho alternamos um pouco a frente eu e o Ernesto sendo que em alguns trechos, onde devia ter uma rampa de neve havia apenas uma rampa de gelo podre com cerca de 50 graus de inclinação onde tinhamos que cavar os degraus para prosseguir a escalada. Fomos subindo em um ritmo bem lento até que a uns 30 metros verticais do cume, bem ao lado de algumas rochas, o Dani disse ao Ernesto que era melhor descerem de onde estavam e então os dois abortaram a escalada.
Como eu me sentia bem e para favorecer estava com um par de piolets técnicos (eles estavam apenas com um piolet de marcha) decidi então continuar subindo. Esperei alguns poucos minutos até que o Ernesto desescalasse até onde eu estava (um ponto mais confortável onde dava para ficar em pé) e assim que ele começou a descer continuei a subida por esse último trecho mais inclinado com 130% de atenção e de lá mais 3 minutos em uma rampa tranquila até o cume da montanha, onde cheguei às 8h20.
No cume comemorei a chegada e o meu aniversário com uma pausa muito rápida apenas para fotos, filme e marcar no GPS o cume e às 8h30 já estava descendo a primeira encosta. Em seguida, em vez de desescalar o último trecho inclinado desci uns 20 metros pelas rochas e depois então voltei pelo camino que havia subido. O Ernesto e o Dani desciam a poucos metros na minha frente (tinham demorado mais porque montaram um sistema de segurança usando parafusos de gelo no trecho mais vertical) e assim que terminaram esse trecho foi minha vez de descer, um passo depois do outro, um piolet depois do outro e agora com 150% de atenção para não cometer nenhum erro (a queda podia não ser fatal, mas seria grave se algo desse errado e isso sequer passava pela minha cabeça para que eu me mantivesse totalmente focado na descida).
Fui descendo, descendo, em alguns trechos o gelo era muito podre com a mesma consistência do gelo dentro de um refrigerador e algumas vezes também soltava grandes lacas até que eu encontrasse, a uns 15 cm de profundidade, um gelo sólido para fixar meus piolets. Da mesma maneira foi para os pés, sendo que na medida do possível fui seguindo os meus passos cavados durante a subida.
A descida foi muito tensa, realmente a escalada mais técnica em gelo que fiz até hoje, mas correu tudo bem. Às 9h15 estava novamente no colo onde alcancei o Ernesto e o Dani então continuamos juntos o nosso retorno.
(obs) - pausa para carregar a bateria e comer uma pizza aqui no aeroporto, vamos ver se não vão me explusar porque puxei uma cadeira pro outro lado para ficar do lado de uma tomada...
O retorno foi pelo mesmo caminho da ida. Do colo escalamos o Tarija pelo seu lado rochoso até o seu cume, fomos para sua crista e então começamos a descida em direção ao glaciar (só desviei uns 5 min para ir até outro pequeno cume bem ao lado para fazer umas fotos). O último momento tenso da escalada foi atravessar a grande greta mas assim que a passei pude realmente relaxar e pensar que estava realmente seguro e agora era só continuar caminhando.
Continuamos a descida e exatamente às 11hs chegamos no final do glaciar onde estava o Miguel e as Holandesas (tinham subido só até o Tarija se não me engano) então tiramos nossos crampons, bebemos algo e depois de alguns minutos de descanso, às 11h20 voltamos a caminhar pela trilha entre as rochas até que ao meio-dia cheguei na minha barraca no acampamento base.
Logo que cheguei entrei na barraca e fui descansar um pouco. As 10 horas de caminhada realmente tinham me cansado e eu ainda tinha que comer, desmontar o acampamento e descer até Tuni para voltar para La Paz, o que realmente me desanimava muito.
Passei cerca de uma hora na barraca alternando entre descanso e beliscar alguma comida e às 13hs comecei a arrumar as coisas e desmontar o acampamento até que, às 13h45, comecei a descida para Tuni com toda minha bagagem em cima de um burrinho teimoso que ficava comendo os matos ao lado da trilha enquanto descia ou, no final da caminhada, ia me seguindo passo a passo.
O caminho de volta foi muito cansativo. Além das 10hs da escalada do Pequeño Alpamayo foram mais 2h15 até Tuni onde cheguei às 16hs. E para piorar eu tinha tratado com o taxista para que me buscasse às 17hs mas ele não apareceu.
Abandonado em Tuni falei então com a Lucy e pedi que chamasse algum outro taxista, o que ela fez prontamente mas o taxista só chegou alguns minutos antes das 19hs e, para piorar, não me levou até La Paz, mas até o começo da autopista em El Alto onde peguei outro taxi que me deixou no hotel em La Paz por volta das 20h30.
No hotel um merecido banho bem quente, 5 minutos no computador só pra avisar que eu estava vivo, cozinhei mais um miojo e em seguida capotei na cama para uma pesada noite de sono depois de uma excelente comemoração de aniversário nas montanhas (primeira vez que comemoro fora do Brasil e para completar em uma montanha fora do Brasil).
Ontem, 2a. feira acordei às 8hs com o despertador do celular, tomei meu café da manhã, comprei a passagem de ônibus para Sta Cruz de la Sierra e, depois de arrumar minhas coisas, me despedir do Juan e arrematar mais alguns equipamentos de escalada e livros na loja Tatoo em La Paz fui para a rodoviária onde despachei minhas mochilas, paguei um pouco de excesso de bagagem e às 18h30 o ônibus partiu (o horário era 18hs mas como sempre houve atraso).
A viagem foi tediosa, 16hs no ônibus em uma viagem que me disseram ter uns 850 km. Chegando no terminal bimodal (ônibus e trêm) em Sta Cruz peguei direto um taxi e estou agora no aeroporto de Viru Viru esperando pelo meu voo (mais 16hs de espera). Deixei minhas mochilas no guarda volume (vou ter que retirar às 22hs) e às 5hs embarco para São Paulo. Vai ser mais uma longa espera mas pelo menos tem internet wifi e de graça aqui.
Resumindo: a viagem toda foi muito boa, aproveitei muito bem os passeios e as escaladas fechando com chave de ouro, com a escalada do Pequeño Alpamayo no dia do meu aniversário.
As fotos mais recentes já estão no link Aniversário escalando o Pequeño Alpamayo.
- enviado por Tacio Philip às 14:29:00 de 15/09/2009.
< Anterior: Escalando o Pequeño Alpamayo no meu aniversário |
Listar publicações |
Próxima: De volta a SP e vídeos da escalada do Pequeño Alpamayo >